Creative Selection, por dentro do processo de design da Apple.

Como a Apple, de Steve Jobs, desenvolvia produtos de sucesso.

Lucas Rosa
4 min readMay 3, 2020

Recentemente li o livro Creative Selection: Inside Apple’’s Design Process During the Golden Age of Steve Jobs, sobre o processo de desenvolvimento de produtos da Apple (na época do retorno do Steve Jobs).

O escritor Ken Kocienda, ex-engenheiro da Apple, compartilha como foi trabalhar em diversos projetos da empresa, sendo seu maior projeto o desenvolvimento do teclado do primeiro iPhone.

A seguir trago alguns pontos relevantes para quem, assim como eu, busca desenvolver habilidades na gestão de produtos.

  1. Iterações e Demos

O processo de desenvolvimento era repleto de iterações. A todo momento, a equipe desenvolvia protótipos e faziam demonstrações. As reuniões de demonstrações eram catalisadoras para decisões criativas e logo eram transformadas em novos protótipos e novas demonstrações.

Toda grande feature do iPhone começava com um demo, raramente aconteciam Brainstormings para discutir ideias em um "quadro em branco". A sucessão de demos era processo principal da empresa para levar uma ideia do intangível ao tangível e assim que havia algum avanço importante, o próprio Steve Jobs participava das demonstrações.

Como Product Manager, me questiono como conseguiram alcançar tal nível de cultura de produto. Além de desenvolver a mentalidade de criar demonstrações, ainda mais desafiador é desenvolver o desapego pelo tempo e esforço dedicados a ideias que talvez não sejam levadas para frente.

"Fazer demonstrações é difícil. Envolve superar apreensões sobre dedicar tempo e esforço a uma idéia que você não tem certeza de que está certa." Ken Koncienda

2. Design e empatia

Uma das características que ficaram mais famosas sobre a cultura da empresa era o alto nível de design e empatia. Segundo Ken, eles sempre buscavam ver o mundo pela perspectiva dos usuários, tentando criar produtos que se encaixassem e melhorassem suas vidas.

Esse fator sempre esteve expresso nas falas do CEO e fundador. Para Steve, a maioria das pessoas comete o erro de pensar que design é como um produto se parece. Porém, para a Apple, Design é como funciona. A aparência de um produto deve descrever o que é e como usar.

3. Decisões, experiência e bom gosto

A Apple acreditava em decisões rápidas, sem necessidade de muitas discussões ou realização de testes. Diante de um dilema, decidiam e seguiam em frente, confiando no bom gosto e experiência dos profissionais.

Segundo Ken, empresas não conseguem fazer boas decisões de design sem uma pessoa próxima da liderança que entenda completamente os princípios e elementos do Design.

"Sem convicção, a dúvida surge e instintos fracassam. . . Quando uma empresa está cheia de engenheiros, ela recorre à engenharia para resolver problemas. Reduza cada decisão para um problema lógico simples. Remova toda a subjetividade e apenas observe os dados. Dados a seu favor? Ok, inicie-o. Os dados mostram efeitos negativos? De volta à prancheta. E esses dados acabam se tornando uma muleta para todas as decisões"

Para ilustrar a diferença cultural, Ken brinca como a Google usaria de múltiplos testes A/B para decidir qual o melhor entre os 41 tons de azul para um botão e como, na Apple, dilemas como esses seriam decididos rapidamente por meio de “bom gosto”, experiência e intuição.

4. Simplicidade. Steve acreditava que produtos bons não eram cheios de funcionalidades sonhadas pelos designers. Ele acreditava que remover features não essenciais tornava o produto mais fácil de usar.

Durante o projeto do teclado do iPhone, Ken desenvolveu duas opções de layout, em que o usuário poderia alternar de acordo com a vontade. Ao apresentar para Steve, ele logo solicitou que Ken escolhesse somente um layout e que descartasse a opção de alternar.

Possuir duas opções de teclado faria com que novas perguntas surgissem: “Qual o teclado abrir como padrão?”, “Devemos abrir sempre no último layout utilizado pelo usuário? e se o usuário gostar de utilizar layouts diferentes para aplicativos diferentes?”. Para Steve, a melhor forma de responder perguntas difíceis era evitar ter que perguntá-las.

Como Product Manager, a todo momento leio sobre processo de desenvolvimento de produto de empresas de tecnologia e cada vez mais sinto haver o mesmo discurso e práticas entre elas — o que pode ser positivo ou negativo.

Infelizmente a Apple não compartilha muito sobre seu processo de criação, logo, livros como de Ken Kocienda valem ouro, pois trazem um pouco do segredo de uma das empresas mais inspiradoras do mundo.

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